Nem tudo começa aqui e nem tudo acaba aqui
Uma viagem conduzida por:
sexta-feira, dezembro 28, 2007
Maria Faria
Ninguém nasce com vocação
para carcereiro,
ninguém nasce com vocação
de prisioneiro.
Mas não é por isso menos incrível
encontar quem ache preferível
envergar as listas do prisioneiro
no lugar da farda do carcereiro.
Escolher um caminho é abrir uma porta,
deixar entrar um convidado mistério
e sentá-lo na cadeira mais torta
do nosso secreto Império.
E quem o escolheria ainda assim?
Maria Faria.
quinta-feira, dezembro 27, 2007
A Fuga
sexta-feira, dezembro 21, 2007
Noites Para Além do Portal
Não lhes pareceu humano, mas também não lhes pareceu não humano.
A Porta fechou-se.
O mais velho do grupo dirigindo-se à figura enigmática e ignóbil, perguntou:
- Quem sois?
Um eco fez-se ouvir naquela enorme sala de todos os lados, dir-se-ia que não era sua voz mas sim que dezenas de vozes vinham de um qualquer compartimento interior àquele lugar.
- Sou a Esfinge que se esconde na alma dos Homens, sou o lado submerso do iceberg da mente humana, o lado que a Humanidade tenta esconder... sou o pedaço de pão que sobra e que não é distribuído... sou o reflexo daquilo que a Humanidade não quer ser mas que nalgum lado tem de existir... e existe aqui neste lugar...
sábado, dezembro 15, 2007
O Mensageiro
sábado, dezembro 08, 2007
Biografia dos Deuses
É nesta e noutras alturas do ano que é possível assistir ao insólito fenómeno da migração das árvores.
Ao invés de buscarem paragens mais quentes, onde aguardassem prazenteiramente pela primavera, as árvores aproximam-se de nós e aquecem-nos o coração.
A biografia dos deuses lê-a a rugosidade da casca duma árvore quando lá passas com a mão...
Os segredos da vida de todos nós vão-se revelando no preencher dos espaços em branco...
Se a palavra FIM estiver escrita a caneta de luz sobre uma página em branco não é possível saber se a história já terminou ou não.
quarta-feira, dezembro 05, 2007
Num Imenso Azul Existes
sábado, dezembro 01, 2007
Love story
Será que todos temos uma história de vida personalizada e intransmíssivel, como os passes dos transportes públicos, identificados com a nossa fotografia e nome, ou todos compramos um anónimo bilhete de ida e volta, válido apenas até ao exalar do derradeiro suspiro?
Não é por nada, mas se por acaso estiver correcta esta última hipótese, todos teremos de viver o mesmo cardápio de experiências, sensações e emoções.
Não posso crer que o filme de amor que vi ontem na televisão descreva exactamente aquilo que sinto por ti, aquilo que sentes por mim, aquilo que acontece cada vez que estamos juntos... mas acaso não me emocionou como se por artes mágicos não fossemos nós aquele casal do outro lado do ecran?
Viveremos nós todos a mesma história de amor ou haverá tantas histórias de amor quanto o número das pessoas que se amam?
Não sei responder... mas quero dizer-te uma coisa...
Sempre que estiveres triste lembra que te amo e que cada segundo é a argamassa que prende os tijolos ao muro das horas que teimam em separar-nos... porém o melhor que essa barreira conseguirá será adiar uma e outra vez a inevitabilidade do nosso reencontro.
sexta-feira, novembro 30, 2007
A Linha do Destino
domingo, novembro 25, 2007
Astronomia para principiantes
Entre salvar o mundo e salvar-me a mim próprio escolho salvar o sonho
...entre o ontem e o hoje opto, sem pensar duas vezes, pelo amanhã.
Sempre gostei da cirúrgica precisão das grandes engrenagens
e a grande máquina cósmica merece todo o meu respeito e confiança.
Para provar o que digo proponho-me cartografar a superfície da lua.
Agora não sei se faça um mapa lunar
ou um mapa lunático.
Nos dias que correm é mais fácil ser louco
do que chegar a ser um cientista...
Mas não será a loucura também uma forma de ciência?
terça-feira, novembro 20, 2007
Labirinto
quinta-feira, novembro 15, 2007
Na encruzilhada
Por isso não te posso prometer que o nosso amor ascenda a alturas tão elevadas quanto as que atingem as asas dum pássaro...
A vertigem é difícil de suportar quando os nossos pés nunca se elevaram do chão... e é mais difícil voar quando o desfiladeiro de onde nos queremos lançar nos fica do lado de dentro dos olhos.
Para te sossegar não posso fazer melhor do que dar-te a mão e convidar-te a caminhar comigo... dizer-te que o medo é bom ...desde que não nos deixemos dominar por ele.
Eu sou a tua asa esquerda e tu és a minha asa direita, é minha a tua asa direita e tua a minha asa esquerda.
Porém, não existe pássaro algum que jamais volte poisar a terra mãe... um dia, mais tarde ou mais cedo, lá teremos de aterrar desajeitadamente nos escombros dum qualquer castelo em ruínas...
Ah! Se pudessemos manter o fôlego num abrasador e eterno beijo que devorasse e digerisse o mundo à nossa volta! Então tudo seria tão diferente!...
O teu corpo é o relógio mágico do tempo presente... é na tua pele que salto do passado para o futuro... os teus lábios são os ponteiros que misturam o som distante do mundo com o arfar da minha respiração...
É na magia da tua presença que me sinto mais vivo do que aquilo que alguma vez me atrevi a imaginar...
Tu és o habitat natural onde vive o meu verdadeiro Eu...
Houve uma noite, há muitos anos atrás, em que sonhei com uma esfinge misteriosa da mulher da minha vida, mas o despertador tocou e deixou-me sem saber se a minha love story tinha ou não um happy end... desculpa se não consigo evitar estar constantemente a espreitar por cima do meu ombro à procura do momento em que o despertador comece a tocar...
Mas, curiosamente, na noite em que me esqueci de ligar o despertador, acordei mais cedo do que aquilo que pretendia...
domingo, novembro 11, 2007
A Guardiã
quinta-feira, novembro 08, 2007
O Aviador sem Brevet
Não me lembro da última vez que poisei os pés no chão.
Já não falo há tanto tempo que receio esquecer o som das palavras.
Nem sei entender se o tédio é tédio ou simplesmente a ausência das distrações do mundo.
Por outro lado, aprendi que as horas mortas são contadas por um cronómetro que corre no sentido contrário e me leva ao antes do antes do princípio.
Se me entrevistasse a mim próprio, que perguntas me colocaria de modo a explicar ao mundo a minha proeza?
A que perguntas deveria eu responder para conseguir dizer que eu sou os olhos dum cego, as pernas dum paralítico, os ouvidos e a boca dum surdo-mudo no projecto impossível duma volta ao mundo em 80 palavras?
Na realidade, as perguntas que me faça não interessam minimamente.
Por esta razão não poderia deixar de dar uma mesma e única resposta a todas as hipotéticas perguntas:
- Ao voo rasante dos dias nada sobrevive para além do medo e do amor.
quarta-feira, novembro 07, 2007
[ O Canto dos Mares ]
A melodia da imensidão dos Mares convida-nos a entrar num Universo onde tudo é possível.
Os Mares cantam as melodias da nossa infância, relatam as histórias que os nossos avós nos contaram e que nós ouvíamos atentamente, abrem as portas do nosso castelo mais íntimo onde um imenso tesouro espera para ser tocado... desvendam-nos o dia em que o nosso próprio reflexo brilha nos olhos de alguém... e onde caminhar na água se revela, não como um milagre, mas como uma certeza.
domingo, novembro 04, 2007
Entreposto
Posso ver a luz da madrugada dum novo dia a espreitar por detrás da montanha secreta da minha alma...
Noutros tempos passaria este dia a tentar corrigir os erros do passado, pois amanhã poderia sempre corrigir os erros que cometesse hoje a tentar corrigir os do passado... mas contigo aprendi que é menos importante corrigir os erros do passado do que evitar os erros do presente...
Estás a tornar-te a minha fraqueza predilecta... o meu calcanhar de Aquiles de eleição...
Eu já tinha aprendido a viver sem medo, a não esperar nada, nem de bom nem de mau... mas então apareceste tu... e, quando chegaste, viajava um medo bom no brilho do teu olhar, sentado lado a lado com um medo mau, que se vem apeando no beijo de despedida da tua sombra à minha sombra...
Cada vez que me despeço de ti sinto um aperto no coração como se esta tivesse sido a última vez que nos vissemos...
Sempre que a tua mão escorrega da minha, agarro-te com o meu olhar num sublime e derradeiro esforço de não te perder ainda mais esta vez...
Porém, cada vez que dobras a esquina do tempo, sobra-me a vontade de desmascarar o mito de que comigo as coisas boas até acontecem, embora aconteçam por muito pouco tempo...
segunda-feira, outubro 29, 2007
A Aniquilação do Mundo
quarta-feira, outubro 24, 2007
A Cúpula Mágica
Por mais que o tente, não consigo deixar de olhar desconfiadamente para o amanhã, tal qual um jornalista preguiçoso que de véspera escreve uma notícia na cama, fiado num palpite, deduzindo a realidade dos factos que se avizinham com cega confiança nos seus falíveis instintos... Que embaraço olhar para a manchete do dia seguinte depois de fracassadas todas as minhas melhores intenções...
Ah!, mundo cruel que não se compadece da minha imaginação!...
sexta-feira, outubro 19, 2007
Uma pequena viagem interior...
Depois da travessia do grande estuário onde conheceu e ouviu histórias de outros companheiros de viagem, pareceu-lhe ser tão igual aos demais, nos sentimentos, angustias, desesperos e desejos que seguiu o caminho sózinho apesar dos convites para estar acompanhado.
Havia algo que o impedia de prosseguir com alguém ao lado... algo que o fazia pensar ser diferente. Ou então o seu caminho era o de um solitário onde lhe cabia uma história ainda por contar num Tempo ainda por desvendar...
A verdade é que ainda tentava saber o seu lugar num mundo desconhecido para ele, onde até o voo do pássaro lhe parecia mágico...
segunda-feira, outubro 15, 2007
O Regresso Adiado
quarta-feira, outubro 10, 2007
Terra de Ninguém
Eu trabalho em três lugares diferentes. Não vou dizer os nomes, adiantarei apenas as distâncias a que ficavam da minha antiga casa: 21 kms, 30 kms e 50 kms. Estas eram as coordenadas mágicas duma pirâmide imaginária que tinha como coração (um hipotético centro geográfico) o meu lar, herança dos meus pais que viviam apenas já na minha memória. Muitos eram os dias em que tinha de percorrer os três vértices da pirâmide que me pagava as contas: estava de manhã a 50 kms, à tarde a 21 kms e de noite a 30 kms. No início não me incomodava muito este périplo ...recordo que me regojizava até por ter o que me impedisse de ter pensamentos menos felizes ao longo do dia. Porém, certa vez olhei-me ao espelho retrovisor do meu carro e apercebi-me de que já não tinha 20 anos... Ao entardecer quando regressava dos 30 kms surgia a inesperada dúvida se percorrera aquele mesmo caminho naquela manhã ou na manhã de ontem ou anteontem... Apossava-se de mim um intrigante sentido de desorientação e inquietação... Os dias deixaram de parecer compridos para serem sempre o mesmo dia... continua e initerruptamente...
A páginas tantas a minha casa não era mais do que um lugar aonde eu ia dormir. Quantas vezes não percorria eu os 30 kms apenas para regressar outros 30 kms poucas horas depois? Que sentido tinha perder meia hora para um lado e para o outro se podia beneficiar muito mais dessa hora se me deitasse imediatamente? Quantas noites praticamente não adormeci com as mãos sobre o volante e não acordei com um arrepio na espinha?
Não lamento o que fiz... não me arrependo de ter cortado as raízes que me prendiam ao meu passado pessoal e familiar: não sei se isto é a liberdade, mas os meus valores, os meus ideais, a minha bandeira e a minha história são hoje a sombra da árvore que me abriga...
segunda-feira, outubro 08, 2007
Uma história em silêncio
"Lembrou-se dos dias passados na sua casa, na casa onde nasceu... tudo agora lhe parecia tão distante mas ao mesmo Tempo tão perto.
Olhou para o horizonte e pareceu-lhe que não conseguiria alcançar o cume daquele monte onde duas pequenas árvores o aguardavam... seriam reais? Ou apenas realidades de um outro Tempo, do seu próprio Tempo?
A sua caminhada tinha de continuar, agora aquele lugar era a sua casa... e... apesar de tudo sabia que não estava só... algo ou alguém o acompanhava e disso estava certo...
Sentou-se numa pedra, demoradamente olhou de novo a planície que deixou atrás de si.
Por momentos sentiu-se abalado com imagens do seu passado... dentro dele o Mundo parecia sufocá-lo.
Percebeu então que este era o seu Caminho, não seria possível voltar atrás... alguém, um dia, ao ouvir o seu silêncio entenderia, porque o silêncio fala mais que a própria verdade.
Deitou-se na erva verdejante daquele prado e olhou o céu até adormecer... aquela era a sua casa disso estava certo agora...
As árvores curvaram-se protegendo-o da noite... ao mesmo tempo entraram no seu sonho desvendando-lhe uma outra forma de sentir... agora também lhe era concedido viajar no Tempo... e de novo sentir-se embalado, olhando um sorriso que lhe era familiar..."
quinta-feira, outubro 04, 2007
"Uma árvore não esquece..."
domingo, setembro 30, 2007
O Turista Acidental
Os pés não nos podem levar levar tão longe quanto o desejam os pensamentos.
Os caminhos nem sempre deixam pedras nos sapatos.
Os lugares servem-se das pessoas para viajarem a seu bel-prazer: a Itália perguntou-me hoje onde ficava o multibanco mais próximo, no outro dia a Inglaterra pediu-me para lhe tirar uma foto com a praia ao fundo.
Nem todas as histórias precisam de palavras para se escreverem - a arte é o suor da alma.
sábado, setembro 29, 2007
Onde o teu céu existe...
terça-feira, setembro 25, 2007
Sementes de Eternidade
domingo, setembro 23, 2007
Décadas
O Tempo foi o meu amigo, o meu confidente, o amante secreto aos braços do qual eu nunca pude fugir.
O Tempo usou-me, exactamente da mesma forma que eu o usei a ele também.
O Tempo usou-me para redigir o seu diário, escreveu-me em cada ruga, em cada cabelo branco, mas hoje, quando me olho no espelho, o que leio é a minha história passada, presente e futura.
Este corpo é somente um souvenir... um novo recuerdo de alguma coisa mais luminosa e absurda que não cabe em palavra alguma.
Estes cabelos brancos em pouco diferem do cacho de caracóis de bebé que os meus pais guardarm no álbum fotográfico da minha infância.
É dificil começar tudo de novo... sentimos o fogo dentro de nós.
Custa a acreditar que algo queime mais do que o sol, porém há algo mais quente e incandescente do que o núcleo solar... o seu nome é sabedoria... vem misturada com o sabor acre do fogo, enchendo-me duma sede que água alguma poderia saciar e secando-me de dentro para fora e de fora para o mundo, numa vertigem que voa no interior dos meus olhos.
É este o sabor da liberdade?
É isto que é ser livre?
O tempo zomba de mim, condensando em poucos segundos aquilo que demorou uma vida a escrever em mim... como se limitasse a poucas linhas o último volume da saga que redigiu com o meu nome.
Em certa medida não o deveria recriminar... Este é o fogo de artifício do final dos tempos... estes são os últimos segundos do último ano, da última década, do último século do milénio final.
Não haverá outro mundo como este.
Nenhum outro mundo será observado num misto de temor e respeito por estes velhos olhos...
Todavia...
Sem desculpas, sem medos, sem saudade, tudo volta ao seu lugar.
quinta-feira, setembro 20, 2007
O Tudo e o Nada
" Todos nos acotovelámos para ouvir, mais uma vez, aquele homem que tinha percorrido sabe-se lá que caminhos, com promessas e respostas para os nossos sonhos de crianças... desta vez ele respondeu a uma pergunta que todos nós já tínhamos feito a nós próprios... o que era o Tempo...?
Demoradamente o velho senhor esboçou um sorriso e respondeu calmamente...
- Tempo e Espaço são como uma rede que nos apanhou, mas as redes têm buracos. Encontra esse buraco e sai por ele... e encontrarás aquilo que os olhos não podem ver, que os ouvidos não podem ouvir, que a mão não pode tocar e o que nunca ocorreu ao teu espírito... reparem nas borboletas que brilham ao sol e vibram com as suas cores... que acontece quando as apanhamos e passamos com os nossos dedos nas suas asas? Libertam um pó e as asas, anteriormente brilhantes, perdem rápidamente aquele brilho e beleza...
A realidade pode estar para além do que aquilo que vemos... daquilo que sentimos... daquilo que vemos... o nada invísivel transforma a realidade sem esforço... "
sábado, setembro 15, 2007
Para Além da Verdade...
terça-feira, setembro 11, 2007
Fascination street
Com tristeza ele voltou as costas e atravessou pesaroso a rua.
Na memória bailavam as imagens agora impossíveis duma outra despedida.
A mulher que então ficara para trás e a mulher que agora ficava para trás olhavam-se desconfiadamente, estudando-se mutuamente dentro seu olhar.
Eram ilusões da sua mente, e ele bem o sabia, mas, ainda assim, continuava sem fazer a miníma ideia do que pensavam uma e outra.
A verdade era relativamente simples: uma possuia o elemento-maravilha e a outra não... uma era instantaneamente desejável fazendo disparar-lhe o coração a mil à hora e a outra deixava-o perfeitamente indiferente e, por mais que apreciasse a sua companhia, que apreciava sem margem para dúvida, sem o mais leve traço de emoção... e que bom seria se ele pudesse amar a mulher de hoje como amara incondicionalmente a mulher de outrora!...
Triste era que a mulher de outrora, de quando voltara as costas e se afastara a passos largos desse outro lugar, sentira por ele exactamente o mesmo que ele sentia neste preciso momento pela mulher de agora, caminhando rapidamente através daquela rua que parecia nunca mais terminar, enquanto os olhos dela se cravavam pelas suas costas como dois punhais de fogo.
Ele experimentava ao mesmo tempo o corte frio e dilacerante dos dois gumes da faca da rejeição... perfurava-lhe a pele debaixo da pele da pele a lâmina ainda afiada do dia já longinquo em que fora rejeitado e também a lâmina incandescente do ainda mal acabado instante em que rejeitara da mesma forma que fora rejeitado...
"A rejeição é um adeus a nós próprios na voz doutra pessoa." Pensou ele quando finalmente dobrou a esquina.
domingo, setembro 09, 2007
O Altar do Tempo
sexta-feira, setembro 07, 2007
Fora de horas
As longas barbas brancas talvez escondessem ainda a suavidade da pele do jovem impetuoso de outros dias menos esquecidos do que o dia de ontem e ainda assim não tão longinquos como o dia de amanhã.
Quem lhe ensinara mais?
O homem que lhe ensinara a sagrada arte e o secreto ofício que agora se incumbia de transmitir a outros mais jovens e inocentes, ou os olhos da mulher que amava ainda para além da morte?
Quem fora na verdade o Mestre mais precioso?
Desejou ardentemente encontrar esse mesmo olhar quando se voltasse para averiguar que estranho restolhar fora aquele logo atrás de si... porém o mais certo era ser apenas um dos seus protegidos ...ou na pior das hipóteses um dos soldados da horda inimiga prestes a desferir sobre si o golpe de misericórdia.
Fosse como fosse não poderia prolongar eternamente o prodígio daquele instante entre o último gole de água e o acto de se virar...
Às vezes acredito que o futuro está escrito nos teus olhos... Deve ser por isso que temo olhá-los bem fundo... como se esticasse os pés e espreitasse através duma janela onde o futuro, o passado e o presente se confundem e amalgamam como uma singular inominabilidade. Inquietantes cenários e enigmáticas situações envolvendo improváveis objectos parecem acontecer dentro deles... o impossível não parece tão irremediável durante o tempo que dura o teu olhar... É na inolvidável maravilha do teu olhar que o chumbo dos meus pensamento se metamorfoseia no ouro das asas dum pássaro que voa livre para além do Tempo. Nem que vivesse mil anos encontraria descrição mais apropriada do que esta para a alquimia da tua presença...
quinta-feira, setembro 06, 2007
O Regresso
domingo, setembro 02, 2007
A Visão
Na escura noite em que o cavaleiro nos levou a mensagem todos pressentimos de que algo não estava bem, só aquela fogueira nos pareceu real, a própria Lua, companheira dos solitários e caminhantes, parecia diferente...
Atrás de nós pareceu-nos ouvir um estalar de ramos, como se alguém andasse perdido naquele imenso bosque. Olhámos uns para os outros, pareceu-nos que ninguém faltava, mas ao mesmo tempo alguém que deveria estar connosco não estava e isso perturbou-nos a todos...
O mais velho de nós apagou a fogueira e disse:
- Temos de seguir, como sabem está na hora, a Lua deu-nos o sinal... hoje é a noite da batalha, aquela que todos tememos e aquela que todos esperamos.
Alguém então perguntou...
- Quem anda na floresta?
O velho sábio olhou para nós dizendo:
- Quem procura encontra, somos mais do que somos aqui... há guerreiros da Luz que nos acompanham sem saber, no entanto estão no caminho certo... um dia quando acordarem seguirão, mesmo de olhos vendados e na noite mais escura a Luz que nunca viram mas que sabem existir...
Seguimos em frente... o som de alguém atrás de nós, por momentos, deixou-se de ouvir... o nosso companheiro desconhecido havia de voltar a encontrar o nosso caminho... e isso para todos nós era uma verdade.
Torre
Lembro-me que era fim de tarde. Estava em casa. Talvez lesse um livro ou qualquer coisa do género. Era o meu último dia de férias. No dia seguinte teria impreterivelmente de me apresentar ao trabalho.
A luz que entrava pelas amplas janelas da sala começava a definhar e a dar espaço para as sombras crescerem. Se quisesse ir dar o tal passeio que pensara pela mata circundante à minha casa teria de sair agora, caso contrário ficaria demasiado escuro e seria já noite demais.
Levantei-me do sofá num único impulso, apanhei a chave de casa e saí. Atravessei a estrada tomando o caminho da mata. As altas árvores já nem me deixavam ver o por do sol, mas havia ainda claridade mais do que suficiente.
Em vez de seguir os trilhos do costume resolvi experimentar algo de novo. Porque não seguir aquele esboço de carreiro que se afundava mais ainda no vale? Pelo estado reparava-se que não era usado há muito. "Que se lixe!" Avancei destemido.
Desci e subi, subi e desci, enquanto as sombras iam tomando conta do mundo à minha volta.
A noite cercava-me como um anjo ou um demónio.
Que horas seriam já? Na realidade não importava muito... não lamentava ter trazido apenas a roupa que me cobria o corpo e a chave de casa. Não podia dizer que tivesse saudades do meu relógio ou do meu telemóvel. Sentia-me bem assim livre do tempo e do mundo.
Todavia, continuava a subir montes e descer colinas sem fazer a mínima ideia de onde estava.
Nunca me tinha afastado tanto nos meus passeios pela mata.
O som errático dos meus pés a pisar a pedra no chão (não lhe chamaria já passos) e a madeira que acariciava com a palma da minha mão numa pausa para descansar...
Esta sensação era-me familiar...
Com uma ligeira diferença... a pedra tocava-me a mão e a madeira sustentava os meus pés.
Se fechasse os olhos quase conseguia ouvir outros sons a dançar com o cantar dos grilos embalado no silêncio do fim de tarde, principio de noite na mata...
Estava parado a meio caminho das escadas de madeira da torre do castelo, uma mão poisada sobre a pedra e outra sobre o meu coração, os olhos fechados apesar da noite ir já adiantada.
Lá longe... música... Uma gaita de foles e... tambores? Sim. Outro ruído... O crepitar duma fogueira! Vozes... Pisotear... Ah! Pessoas a dançar à volta da fogueira! Copos a ser erguidos no ar, o vinho a salpicar o pó. Uma festa! Quem sabe não acabou de nascer o principe herdeiro deste reino? Ou talvez esta seja a última noite antes da derradeira batalha contra o temível inimigo aquartelado do lado de fora da muralha...
Acho que reconheço um outro som... mais em cima... este suave restolhar devem ser os estandartes e a bandeira deste jovem e imberbe país a bailar também ao sabor do vento no topo da torre.
Quem sou eu aqui parado a meio das escadas da torre? Serei um soldado que sobe para render a vigia às legiões inimigas? Talvez seja o rei que desce para se juntar às comemorações pelo nascimento do seu primogénito. Posso até ser um simples aprendiz de ferreiro à espera da amante, uma das aias da rainha, que conheci numa outra noite como esta, quando procurava alcançar o cimo da torre para experimentar as asas por mim construídas para voar e maravilhar o coração dos homens.
Talvez esta seja a altura certa para eu abrir os olhos...
Mas o que fazer quando a escuridão é tão grande com os olhos fechados quanto com eles abertos?
quinta-feira, agosto 30, 2007
Sombra colorida
Por muito que se esforçasse no contrário, era sempre defronte à fachada daquele prédio que acabavam os seus périplos nocturnos cidade fora.
Durante algum tempo acreditou que as cores que via nos diferentes apartamentos fossem um efeito colateral das suas insónias.
Procurou em vão o mesmo prédio à luz do dia, sem nunca o descobrir.
Até que uma noite um outro filho da madrugada passou por ele diante da fachada, abrandou o passo e comentou: "É curioso, parece um mosaico a marcar a posição de que nem a escuridão pode vencer as cores dos nossos sonhos... E ali também ninguém dorme."
Ele ficou atordoado pelo eco destas palavras misturado com o som dos sapatos do desconhecido afastando-se... apossara-se de si um medo mais antigo do que os próprios homens.
Não lhe chegara a ver o rosto, fascinado que estava com as sombras coloridas a executarem uma misteriosa coreografia do lado de lá do amarelo, do verde, do vermelho, do azul... desviou o olhar e ficou a ver aquela silhueta a perder-se na incógnita de mais uma esquina na cidade levemente submersa num estranho e fantasioso nevoeiro.
Todavia, aquela voz era-lhe estranhamente familiar... aquela silhueta não lhe era de todo desconhecida... como se do seu próprio pai ou do seu próprio irmão se tratasse... ou mais próximo ainda...
O desconhecido sabia mais do que ele acerca daquele intrigante edifício. Talvez o estranho fosse um deles... um daqueles que dançavam na cor do sonho...
De repente lembrou-se de onde conhecia aquela voz... Claro, como não se apercebera imediatamente!
Aquela era a sua voz! Mais madura é certo, mas era a sua voz.
Aquela era a sua silhueta! Talvez algo mais curvada pelos anos, sem dúvida, mas era a sua silhueta.
Sorriu e voltou a olhar para a fachada.
Sim, lá estava Ele-Eu num apartamento a ver televisão... A que programa assistiria? Uma série policial? Um reality show? Não, esperem... Ele sabia... Naquele aparelho passava a desoras o filme que contava a história dum homem parado diante da fachada dum certo e determinado prédio, travando um braço de ferro entre a escuridão e as sombras dos seus sonhos.
Encolheu os ombros, bocejando. Era a altura de regressar a casa.
Apercebia-se agora que um dia saberia as respostas para as dúvidas, questões e perguntas que hoje não o deixavam dormir.
segunda-feira, agosto 27, 2007
Anjos Na Noite
sexta-feira, agosto 24, 2007
Um Dia
sábado, agosto 18, 2007
Os Adoradores do Sol
Só tinha uma certeza, fosse qual fosse o seu destino, tinha que seguir em frente... para onde? Com que missão?
Apesar de na sua mente se sentir desconfortável quando alguma destas perguntas imaginárias lhe ocorriam, algo maior que si próprio se sobrepunha, como uma verdade, uma absoluta verdade... este é o seu caminho, este era o caminho certo...
Parou e tentou vislumbrar por entre um nevoeiro denso, algo enigmático, prenúncio de um acontecimento que por momentos o atemorizava e ao mesmo tempo o deixava numa expectativa tranquilizadora, um local para descansar.
Após uns instantes levantou-se e seguiu, agora mais confiante, mais seguro de si mesmo, aquele seria o caminho certo.
O nevoeiro haveria de desaparecer nos minutos mais próximos, sentia a presença da luz do Sol, da presença de uma Luz muito maior...
Instantes depois as nuvens subiram, a cada passo que dava o caminho à sua frente abria-se, de tal modo que conseguiu ver, ao longe, sombras debruçadas sob um muro de onde uma Luz intensa rasgava os céus...
No exacto momento em que se juntou aos outros nada, na sua longa caminhada, o tinha preparado para o momento da chegada ao Templo dos Adoradores do Sol.
Foi então que compreendeu aquela imensa verdade que esteve sempre com ele, a verdade que sempre o fez caminhar, a verdade que o fez não desistir... essa sua verdade brilhava como aquela Luz...
sábado, agosto 11, 2007
Verdade Secreta...
Viajamos no Tempo, no nosso Tempo, à procura de uma qualquer Verdade, de uma qualquer sabedoria algures escondida num lugar secreto, no entanto essa Verdade está nos sonhos, essa Verdade sempre esteve connosco...
Um dia ao olharmos para o lado vislumbramos o momento certo, o momento em que um sinal é dado pelo próprio Universo... e esse sinal é para nós...
A Barca dos Sonhos sempre existiu no Universo que nos fez existir, está à nossa disposição, pronta a levar-nos numa imensa viagem em que o limite somos nós próprios.
Embarquemos então nos sonhos, naquela barca que há tanto Tempo acompanha a Humanidade na sua viagem.
O Sinal foi dado... porque esperamos então?
segunda-feira, agosto 06, 2007
Sagrada Caligrafia dos Dias
Desejei tirar um curso sobre a ancestral e sagrada arte da caligrafia dos dias... procurar por mestre um renomado artista da arte de lançar o olhar para além do momento.
Almejei aprender e desenvolver o meu conhecimento do alfabeto dos dias, a língua original dos segredos escondidos no rumorejar dos rios, no sopro do vento, no silêncio dos meus pensamentos...
Sonhei evoluir na expressão artística e gráfica dos elegantes movimentos da caligrafia que não desenham as palavras que escolho e desprezo sempre que minto um Eu que apresento ao mundo no baile de debutantes dos olhos da minha mãe, do meu pai, do meu irmão, da mulher que amo, dos meus amigos, dos meus colegas de trabalho, do pedinte que espera à saída do supermercado, do desconhecido com quem me cruzo fugazmente na rua.
Acreditei viver numa terra sem espelhos nem reflexos e que os meus olhos sendo parte da minha cara desconheciam por completo o meu rosto... e ainda assim não era segredo para mim quem eu era.
sábado, agosto 04, 2007
Pensamentos Ao Entardecer
quarta-feira, agosto 01, 2007
Realidade Irreal
Parei o carro naquela avenida e saí, no horizonte os Deuses do Olimpo pareciam acenar-me, aquele Tempo não era o meu Tempo, eu estava não estando ali.
Ao longe, a todo o momento, anjos poderiam surgir no horizonte anunciando alguma salvação, ouvindo, finalmente, as preces do mundo...
Seria este o lugar em que desembarcariam os Guerreiros da Luz? O lugar escolhido por magos e feiticeiros?
Imaginei tudo isso... perdi a noção do Tempo, do local onde estava e de toda a realidade(?) à minha volta... tinha passado mais de uma hora... que inquietante! Nem dei por isso, seria possível?
Por alguma razão olhei de novo para o horizonte e lembro-me de sorrir... e... do lado de lá... algo me sorriu também...
Gatrioskos
Era uma noite como outra qualquer. Ficara até mais tarde no trabalho e regressava a casa já pela noite dentro. O meu carro já tinha a obrigação de saber o caminho de cor e salteado, mas como aquela parte da estrada atravessava uma zona rural sem qualquer iluminação e nela mal caberiam dois carros que se cruzassem, mantinha-me alerta e vigilante.
De repento observo dois olhos a brilhar lá longe na berma esquerda. Galgados mais alguns metro os faróis iluminaram um gatinho branco, quase bebé ainda. Abrandei a velocidade. O animalzinho mirou-me desconfiado e saltou para dentro da vegetação, perdendo-se a sua alvura na escuridão da noite.
Sorri e prossegui o meu caminho. Não muitos quilómetros à frente, novo par de olhos brilhou na noite também na berma esquerda. Desta vez os faróis revelaram-me um gato branco ainda jovem, ligeiramente maior que o anterior.
Ainda que surpreso com a coincidência não abrandei.
Alguns metros antes do clarão que anunciava o regresso à estrada com as duas faixas perfeitamente demarcadas e bem iluminada, ainda um outro par de olhos brilhou algures na escuridão da berma esquerda. Engoli em seco ao perceber que se tratava de um enorme gato branco adulto. Escapuliu-se nas trevas assim que que sentiu o motor do carro a engasgar quando eu levantei o pé do acelerador.
Arranquei de novo sem deixar o carro imobilizar-se completamente e parei no cruzamento que me devolvia à estrada que em poucos minutos me colocaria em casa.
Que estranha coincidência fora aquela?
Como intitular o relato desta noite?
O Tempo dos 3 gatos?
O Gato dos 3 tempos?
Na realidade que garantia tinha eu de que esta história se passava numa única noite com a participação de 3 gatos brancos? E porque não aceitar que o gato fora só um e as noites se tinham prolongado por semanas? Não fazia eu aquele caminho todas as noites? Ou talvez tivesse sido apenas um gato numa única noite... Que sabia eu efectivamente do tempo para além daquilo que marcava o mostrador do meu relógio de pulso? Que data era a daquele dia, que idade tinha eu, quem era eu?
1 gato, 1 noite? 2 gatos, 2 noites? 3 gatos, 3 noites? 1 gato, 2 noites? 2 gatos, 1 noite? 3 gatos, 1 noite? 1 gato, 3 noites? 2 gatos, 3 noites? 3 gatos, 2 noites?
Mas mais que isso: seria de todo despropositado acreditar que esta história não se passara de dia e que os gatos fossem pretos?
Diria eu o que sabia ou saberia o que dizia?
sábado, julho 28, 2007
O Aprendiz
quinta-feira, julho 26, 2007
Sonhas Com O Dia Em Que Saberás Voar...
terça-feira, julho 24, 2007
Coroa de Nuvens
segunda-feira, julho 23, 2007
A Chegada
" Após chegar olhou aquele lugar... tinha superado mais uma etapa na longa caminhada que ainda o aguardava. A Luz estava na posição certa, indicando-lhe onde deveria aguardar pelos companheiros.
Ali nada teria a recear, aquele lugar representava o seu próprio Universo, aquela era a sua casa, mas também era a casa dos seus próprios companheiros.
Uma melodia pareceu encher o ar... e ao som dessa melodia adormeceu, cansado da longa jornada.
A Luz vinda de fora inundou a sala parecendo parar o Tempo.
O primeiro Guerreiro da Luz tinha chegado à Casa da Aprendizagem... "
quarta-feira, julho 18, 2007
Da esplanada na ilha do sol regojizei-me pelo nada que me enchia a cabeça. Os meus olhos embarcaram no barquinho que suavemente baloiçava sobre as ondas, partindo intrepidamente na senda de alguma inesperada aventura que os aguardasse para além do horizonte. Não haviam palavras que ousassem sequer tentar descrever tudo o que me rodeava. Há dias assim... em que os lugares não precisam de memória para os reclamarmos como nossos. Há momentos em que a nossa pátria é a criança que nos vive dentro coração.